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Sim, anestesista também conta como médico!

  • Foto do escritor: mariafedaita
    mariafedaita
  • 2 de mar. de 2018
  • 3 min de leitura

Se já alguma vez foi operado, esta será, provavelmente, a última imagem de que se recorda antes de adormecer num sono profundo e reparador - sim, porque é assim que o descrevem sempre os doentes depois de experimentarem as maravilhas do Propofol - ou não fosse essa a perdição do Michael Jackson.

O que a grande maioria não sabe, ou pensa, é que a última voz mágica que ouviram "Vai chegar o sono. Bons sonhos. Até já" pertence a um indivíduo que, adivinhem lá ...É médico! Surpresa!! Parece ridículo para alguns, mas, na verdade, quase todos os dias ainda ouço pessoas admiradas porque toda a vida acharam que o anestesista era o enfermeiro que simpaticamente lhes metia o medicamento na veia e os fazia adormecer.


Sou relativamente nova nisto. Uma novata, até. E corrijam-me se estou enganada, mas todos os dias, quando saio do hospital, do bloco operatório, da consulta, acho que o anestesista experiente e dedicado, ainda tão subvalorizado, é um super médico.


Pois se não veja. O anestesista é aquele dos olhos simpáticos que aparece antes da cirurgia no parapeito da maca, muitas vezes de cara tapada e cabeça envolta em toucas coloridas. Aquele que faz as perguntas parvas e pede as coisas mais impensáveis, como abrir bem a boca com a língua de fora, inclinar o pescoço para trás, tentar passar com os dentes inferiores para a frente dos de cima e que insiste para tirar a placa. Não, ele não está só a tentar ver a sua amigdalite ou a tentar apalhaçar a coisa para o descontrair antes da cirurgia. É aquele que vai perguntar vezes sem conta se tem a certeza que não comeu nada hoje, não porque lhe quer lembrar a toda a hora de que, apesar de não lhe caber um feijãozinho, tem uma valente fome; mas sim porque dessas mais pequenas e parvas coisas pode simplesmente depender a sua vida.


O anestesista vai adormecê-lo, mestre em embalar os mais receosos e ansiosos seres. Vai por isso fazer com que fique inconsciente, que não se lembre da operação e que não tenha qualquer tipo de dor. Vai fazer com que não respire, de propósito, é verdade. Mas vai colocar-lhe cuidadosamente um tubo com ligação direta aos pulmões e ligá-lo a uma máquina complicada que vai respirar por si. E a partir daí, será ele a controlar a forma como respira, vai intervir se o coração acelerar ou abrandar, vai certificar-se que as tensões arteriais estão normais, vai avaliar constantemente o sangue, vai transfundí-lo se precisar, vai até certificar-se de que urina convenientemente.


Quando entrei para anestesia, fixei, para sempre, que ser anestesista era como pilotar um avião. Antes do passageiro entrar, verificámos todos os materiais e as dezenas de botões que por lá param. Verificamos os cintos de segurança e na descolagem, certificámo-nos de que efetuamos uma subida gradual, lenta, sem grandes contratempos. Depois ligamos o "piloto automático", certificando-nos apenas da trajetória, da velocidade, da dose certa de combustível, do conforto do nosso passageiro, mas agimos em emergências, em situações de turbulência ou poços de ar (com uma pausa para um xixi ou um cafezinho rápido enquanto o co-piloto assume a coisa).

No momento da aterragem, fazemo-lo de forma calma, descendo lentamente, sem grandes sobressaltos e garantimos que aterra em segurança, sem dores, calmo e tranquilo - mesmo que não haja direito a sinetas a alarmar a aterragem ou palmas no final da prestação. Mas recebemos sorrisos, olhares agradecidos mesmo que ainda meio enublados pelo receio e por uma viagem com um sono reparador.

Agora, de cada vez que ando de avião, e dado o meu particular receio pelos ares, vou pensando e fazendo analogias com o que o anestesista faz. Tota, eu sei!

E digam-me lá. Naquele momento, quando viajam de avião, sentem que a vossa vida está nas mãos do precioso piloto que esperam que tenha anos de experiência, que não adormeça ou que simplesmente não deixe aquela porra cair. Certo?

É isso que pode esperar, de certeza, da próxima vez que um médico, anestesista, se cruzar na sua viagem.









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MARIA FEDAITA

SAÚDE E BEM ESTAR

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