"DENTISTAS DE RUA" em Segunda Opinião
- mariafedaita
- 22 de jun. de 2017
- 4 min de leitura
Desmistificar é preciso!

Vivemos na era digital. Tudo está à distância de um click! Um vestido novo, os sapatos da moda, o último hit do verão, a receita daquelas panquecas fit, as compras do supermercado quando temos preguiça de sair de casa, as cusquices das revistas cor-de-rosa, além de toda uma panóplia de informações, opiniões, comunicados, esclarecimentos, artigos, notícias, sobre tudo o que se possa imaginar! A saúde não é exceção! De facto, num estudo nacional realizado em 2017 sobre literacia digital em saúde, 88% dos inquiridos diz utilizar regularmente a internet para procurar informação sobre saúde.
Basta digitar “limpeza dentária” no Dr. Google que, em menos de 1 segundo, aparece 490.000 resultados. Se colocarmos “cárie”, esse número sobe para os 1.060.000, e por aí em diante! São milhares de terabytes de informação ao nosso dispor. Ou será desinformação?
Sem dúvida que esta acessibilidade é um grande progresso na sociedade e uma mais valia, mas também acaba por baralhar a cabeça dos mais desinformados e menos críticos em relação aquilo que leem. Quem nunca foi googlar sobre as mais diversas doenças? Saber os sinais e sintomas e até mesmo pesquisar sobre os tratamentos mais indicados? Quem nunca fez dos seus problemas de saúde uma conversa de café? Quem nunca se aconselhou com aqueles que lhe parecem mais credíveis nas diferentes áreas?! Quem nunca?! Pois é, arriscaria a dizer que toda a gente (sem exceção!) já deu uma espreitadela na internet sobre aquela maleita que teima em não passar!
O problema que aqui se coloca, não é só a quantidade colossal de informação desadequada e errada, mas também o facto de muitas pessoas terem certezas absolutas e julgarem saber verdades irrefutáveis sobre os problemas dentários, baseada numa informação qualquer lida no feed de notícias ou num qualquer artigo (muito científico!) de um blog sobre unhas e manicure. Outro dos grandes problemas é a desvirtuação da informação. Lemos umas coisitas aqui, acrescentamos outras dali e vai-se construindo um saber muito pouco rigoroso.

Chega-se ao ponto de parecer o jogo do telefone, a informação é dada de uma maneira e quando o paciente entra no consultório esta está completamente deturpada, ao cúmulo de ouvirmos coisas como: “Dra. hoje não podemos tirar o dente porque estou com o período”. What?! Para que não restem dúvidas, meninas, o tratamento dentário, seja ele qual for, não interfere em nada com o ciclo menstrual por isso, não precisam de alterar as consultas quando estão nessa altura chata do mês! Mas adiante!
Outra coisa que os dentistas de rua (atenção, não considero que seja com má intenção, é só por ignorância!) gostam de aconselhar os seus pacientes é a “não fazer muitas limpezas porque isso estraga os dentes!” Este é um dos mitos que considero mais perigoso e que, portanto, é preciso desmitificar! A destartarização (limpeza dentária) consiste na remoção de placa bacteriana calcificada mais conhecida por tártaro ou “pedra”. O desgaste do esmalte do dente não ocorre uma vez que o instrumento utilizado funciona por vibrações (ultrassons) e não perfura a superfície dentária. Através dessas vibrações são retirados restos de comida e bactérias que calcificaram nos dentes. É, por isso, fundamental fazer destartarizações com regularidade!
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Outro mito muito comum é que “não se deve escovar os dentes quando as gengivas sangram”. Errado!
Devem sim! O sangramento gengival é um sinal de alerta de inflamação pela presença de bactérias nesse local. Deixar de escovar junto à gengiva só irá agravar a situação! Aconselha-se sempre uma consulta dentária para remoção dos resíduos (placa bacteriana ou tártaro) causadores da inflamação e para ser se instruir a melhor forma de escovagem.

Ou então este “O uso duma escova dura ou escovar com muita força permite ter uma melhor higiene oral”.
Isto é mito gente! A escovagem dos dentes por ação mecânica pode desgastar o esmalte, ao longo do tempo, quando é feita com uma escova dura ou com muita força. Ao contrário do que se possa pensar, é muito mais importante a forma como se escova do que o tipo de escova que se usa. O desgaste traumático que ocorre origina, com frequência, o aparecimento de sensibilidade dentária e retrações gengivais. É importante que estas situações sejam detetadas a tempo, pelo que as consultas de rotina serão essenciais.
E para terminar “Não preciso de ir ao dentista porque não sinto nada”. Se pensas assim, lamento, mas estás errado! A ausência de dor, infelizmente, não significa ausência de problemas orais. A doença periodontal, por exemplo, que é a inflamação das estruturas de suporte dentário (gengiva e osso), muitas vezes não provoca dor nem queixas de maior, mas o seu tratamento é urgente para evitar a perda de dentes. Algumas cáries, numa primeira fase, não doem, mas estando na sua fase ativa podem evoluir para fases mais avançadas e dolorosas.
Para concluir, a internet é, indubitavelmente, um bem imprescindível nos tempos de hoje, cheia de pontos positivos e mais-valias! Mas, quando se trata da nossa saúde oral, a melhor forma de te aconselhares é com o teu médico dentista!

Dra. Marta Gonçalves Maranhão
Médica Dentista
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